por Cristiane Collich Sampaio


 


Em setembro de 2007, quando começaram os rumores da venda dos ativos ExxonMobil na América Latina, poucos poderiam prever que a acirrada concorrência que envolveu a Esso Brasileira teria como vencedora, nada mais nada menos, que a Cosan, a maior produtora de álcool do mundo. Basta lembrar que Petrobras e o Grupo Ultra também participaram da disputa.


Para explicar o fato, o vice-presidente Comercial e Logístico da nova proprietária da distribuidora, Marcos Lutz, afirmou que a Esso é uma grande empresa, de potencial pouco explorado, que faz parte da história do Brasil, enquanto que a Cosan ganha cada vez mais espaço na matriz de combustíveis nacional. “Esta integração traz sinergias crescentes, além de garantir à companhia um nível singular de informações, como o melhor momento para a compra de álcool. Acho que a nossa proposta trouxe, além de um valor justo por ativos tão especiais, também um projeto inovador, que busca com a atual equipe, retomar o crescimento das operações”, avalia. De acordo com as declarações do vice-presidente, “a Exxon estava em fase de poucos investimentos no Brasil e a Cosan pretende mudar isso rápido, retomando o crescimento aqui, ampliando a rede e desenvolvendo escala e densidade”.


 


Otimismo no ar


 


No estado de São Paulo, acreditando nesses presságios, há revendedores otimistas com as mudanças. João Francisco Vieira, que em sociedade com a irmã Ana Paula, há 15 anos é proprietário do Auto Posto Torre de Dona Chama, na zona Oeste da capital, prevê que “virão grandes investimentos” na rede. Em Sorocaba, Antônio Gustavo Sartorelli, do Auto Posto Três Marias, por sua vez, declara que “para a rede Esso, a compra da companhia pela Cosan era o melhor que poderia ter acontecido”.


Também na estrada a percepção é de que dias melhores virão. “O nome Esso significa muito para o caminhoneiro”, diz José Reginaldo Ereno, proprietário do Auto Posto Ibirarema, situado na Rodovia Raposo Tavares. Ele não imagina que a Cosan desembolse um valor tão alto para a compra da distribuidora “para fazer besteira”.


A transação foi, de fato, milionária. O valor total envolvido foi de US$ 940 milhões e inclui todas as operações do downstrean da Esso: área de combustíveis e lojas de conveniência, segmento de lubrificantes e as operações de aviação no Brasil, bem como a rede de mais de 1, 5 mil postos revendedores da bandeira, espalhados por 20 estados (mais concentrados no Sudeste), além de terminais e centros de armazenamento. Atualmente a Esso ocupa o quinto lugar no ranking das distribuidoras, com 7,2% do market share.


Mas as marcas Esso e Mobil e as das lojas Hungry Tiger e Stop&Shop ainda deverão permanecer no Brasil por um bom tempo, pois, mesmo sem precisar o período, Lutz adianta que a Cosan poderá usá-las “por um longo prazo”.


Também não há perspectiva de alterações no staff, pois a nova proprietária da distribuidora pretende garantir a independência das duas empresas. “Pretendemos manter a equipe Esso – sobre a qual temos excelente opinião – tocando o negócio, mudando somente o ritmo dos investimentos no Brasil, que é o nosso foco”, declara o executivo, mas acrescenta que a Cosan pretende começar a usar a escala e a nova dinâmica dos fluxos logísticos das duas empresas para reduzir os custos operacionais do grupo.


 


A essência permanece


 


Na Esso Brasileira também parece haver muita disposição para enfrentar os desafios dessa nova fase. José Augusto Neves, diretor de Assuntos Corporativos da companhia, afirma: “podemos dizer que os principais valores de nossa empresa permanecem: nossas marcas, programas e a competência de nossos empregados. Agora, a esses valores somam-se o DNA de crescimento e dinamismo da Cosan.”


Segundo ele, a transição administrativa está em curso e as equipes estão trabalhando arduamente para que esteja concluída no menor tempo possível, embora admita que “são muitos os sistemas e os processos que precisam ser cuidadosamente adequados”, o que envolve a central de Curitiba, por exemplo.


Neves informa que “a decisão da ExxonMobil, de vender parte dos negócios de downstream no Brasil, foi o resultado de uma cuidadosa análise de seu portfólio e as oportunidades de crescimento”, algo que é feito periodicamente em todos os negócios da empresa ao redor do mundo. Porém, há uma clara tendência na ExxonMobil internacional de concentrar suas atenções na área de petróleo. Recentemente também colocou à venda seus ativos na Espanha e em Portugal.


 


Perspectivas

Ao comentar os projetos da Cosan – que, com a aquisição da Esso, tornou-se a primeira produtora integrada de álcool do mundo, atuando desde o plantio da cana até a venda do álcool ao consumidor final –, Marcos Lutz revela que não são nada modestos e estão relacionados com a própria trajetória da empresa: “nossa história diz muito sobre nosso perfil, pois crescemos por meio de mais de uma dezena de aquisições que, combinadas à expansão orgânica, multiplicou por 15 as vendas.” Agora o foco é a participação ativa na evolução do mercado de distribuição. E o contexto é favorável a isso. Lutz constata que hoje as vendas de automóveis batem recordes e mais de 85% são de carros flex fuel. Além disso, a frota atual, que tem menos de 30% de veículos aptos a consumir álcool hidratado, está se transformando e crescendo. De acordo com sua avaliação, no futuro esse combustível será cada vez importante, especialmente nas frotas urbanas, e, com isso, a Cosan quer expandir seu market share.


E, embora não se disponha a atuar na área do biodiesel, a empresa se propõe a ser um player ativo no desenvolvimento de novas fontes de energia. Além de seu importante papel na cogeração de energia elétrica, produzida a partir da queima do bagaço da cana, pretende manter uma boa posição também na próxima geração de biocombustíveis.