por Cristiane Collich Sampaio e Márcia Alves

O Brasil não poderia passar ileso pela crise econômica que continua fragilizando a maioria das nações, com destaque para as mais desenvolvidas. Mas, enquanto EUA e União Europeia, especialmente, amargam altos índices de desemprego e recessão, o “impávido colosso”, apesar de ver seu Produto Interno Bruto (PIB) crescer pouco, estranhamente não registra fechamento de postos de trabalho; a taxa de desemprego permanece estável.

Beneficiado pelo crédito fácil e por desoneração tributária pontual, o consumo interno continua aquecido, sustentando o desempenho do setor de comércio e serviços, principalmente, pois a indústria teve desempenho sofrível no ano passado.

De um modo geral, a previsão do mercado é de que o PIB brasileiro cresça até 3,2% este ano, avalia o economista Mauricio Canêdo Pinheiro, professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). “É um cenário otimista, mas a estimativa é de que 2013 seja, mesmo, melhor do que 2012, também para o setor industrial, que, de acordo com projeções do Ibre, teve crescimento negativo de 0,8% em 2012 em comparação com 2011.”

Os projetos de infraestrutura do Governo também deverão aquecer a economia, embora talvez não produzam efeitos imediatos. A taxa de investimento estimado pelo Ibre para 2012 foi 4,6% menor do que a de 2011. “Há quem aposte em crescimento positivo de até 9% em 2013”, declara.

A inflação, que registrou alta em janeiro, deverá cair com a diminuição do custo da energia elétrica e dos alimentos, ainda que o reajuste nos preços dos combustíveis reduza um pouco esse efeito.

Consumo cresce sem equilíbrio. Mas e a lucratividade?

Entre 2011 e 2012, entre os combustíveis automotivos, a comercialização do diesel teve expansão de 6,8% e a da gasolina foi de 12,2%, enquanto que o etanol amargou retração de 10,4%, segundo dados do sindicato das distribuidoras (Sindicom).

Essa significativa queda no etanol é justificada por Mauricio Pinheiro. “Isso se deve à desorganização que o Governo vem causando a esse mercado, ao manter baixo, artificialmente, o preço da gasolina nos últimos anos. Também houve desoneração tributária na gasolina em detrimento do etanol, quando deveria ser o contrário: tributar o mais poluidor e incentivar o etanol, cuja queima é menos nociva ao ambiente”. Ele ainda assinala que mesmo com o recente aumento dos preços dos combustíveis fósseis, há defasagem de cerca de 10% na gasolina e 20% no diesel em relação aos preços internacionais.

Como largamente noticiado, a Petrobras vem acumulando grandes perdas, por conta do aumento da importação de gasolina, que vende internamente por preços menores que os de compra. A adição de maior percentual de etanol anidro à gasolina, que deve passar de 20% para 25% em maio, poderá dar um pequeno alento à empresa e reduzir ligeiramente o preço final do combustível.

Mas a Petrobras não é a única a não ter benefícios com o aquecimento da demanda. Conforme avaliação do presidente do sindicato paulista da revenda (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia, poucos são os revendedores que conseguem elevar sua lucratividade com o aumento das vendas. “Pressionada pela concorrência acirrada, por vezes predatória, a maioria dos revendedores não consegue repassar para os preços finais o aumento dos custos, que vem se verificando no setor.” Nos últimos anos, a elevação desses custos foi maior do que a das margens brutas, levando a queda na lucratividade dos estabelecimentos. Ele diz que, mesmo vendendo mais, muitas vezes a rentabilidade até diminui, pois terá de haver investimento adicional em manutenção de equipamentos, por exemplo, quando não na contratação de mais empregados.

Política de longo prazo

Para o pesquisador do Ibre, mesmo com os novos aumentos dos preços dos derivados de petróleo prometidos para este ano, “o etanol hidratado ainda terá dificuldades para ser competitivo, em razão das incertezas que permeiam esse mercado, que levam à retração dos investimentos no setor”. Em sua avaliação, que é compartilhada pela União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), “a falta de uma política de preços de longo prazo para o mercado de gasolina e álcool – que disputam a preferência do consumidor que possui veículo flex – é o que impede investimentos”.

Em nota divulgada quando do aumento dos preços dos derivados no final de janeiro, a Unica destacava que “medidas pontuais serão positivas no curto prazo, mas não substituem ou eliminam a importância de medidas mais amplas, voltadas para o longo prazo, que permitam a retomada de investimentos na expansão do setor sucroenergético”.

No fechamento desta edição a entidade continuava dialogando com o Governo. Uma das possibilidades analisadas para elevar a competitividade do etanol era a da desoneração do PIS e da Cofins incidentes sobre o produto.

Sem definições sobre o papel do etanol na matriz e sobre a política de preços a ser adotada para os dois combustíveis é muito difícil fazer estimativas sobre esse mercado.

Maior consumo não melhora resultado da revenda

Embora o consumo de combustíveis tenha aumentado, nem todos os segmentos do mercado de combustíveis podem comemorar. Os postos, principalmente.

O resultado financeiro da atividade de revenda de combustíveis piora na mesma proporção do aumento de consumo no país. Enquanto as distribuidoras comemoram os bons resultados, a revenda se queixa da perda de lucratividade. Além da concorrência acirrada que pressiona a margem de comercialização, os postos, como último elo da cadeia, estão sujeitos à enorme carga de tributos e inúmeras obrigações.

Um estudo recente do setor detectou um aumento de faturamento dos postos em 2011 da ordem de 11,5%. Mas, o mesmo estudo também apurou que a arrecadação tributária do setor no período superou essa marca, atingindo 11,8%. No mesmo ano, o crescimento das margens foi menor para a revenda.

Margens no limite

Apesar do fluxo intenso de veículos na avenida Celso Garcia, no bairro do Tatuapé, em São Paulo (SP), o Auto Posto System mantém suas margens de comercialização no justo limite para suportar os custos. “Para aumentar a venda de combustíveis teria de aplicar margens muito baixas. Mas isso não é possível porque os encargos são muitos altos. Se trabalhar com margem no limite já é difícil para pagar as contas, baixando ainda mais seria impossível”, diz o gerente do posto Walter Laranjeiras Filho.

Ele conta que o estabelecimento está se adequando para iniciar a comercialização do Diesel S10 e que, por enquanto, devido à falta do produto, tem perdido vendas. Aumentar a venda de gasolina aditivada seria uma opção para melhorar a rentabilidade do posto, porém, considera que a diferença de preço em relação à gasolina comum, ainda que pequena, não motiva o consumidor.

Mais impostos, menos lucro

Cleber Menezes, gerente do Auto Posto Prata 2, localizado no bairro da Penha, em São Paulo (SP) está certo de que a rentabilidade do estabelecimento não cresceu na mesma proporção de aumento do consumo, que foi de 6,3% em 2012. “Não cresceu. Diria que caiu em virtude dos impostos”, afirma. Sua percepção é a de que a lucratividade da revenda de combustíveis vem caindo na mesma proporção do aumento de impostos e encargos sobre atividade, com a agravante de que esse “prejuízo” não pode ser repassado aos preços nas bombas.

Sem saída, a única solução enxergada pelo gerente para manter o estabelecimento operando é cortar custos, reduzindo ao máximo qualquer gasto extra. “Fora os custos fixos, como a folha de salários, o restante precisa ser enxugado”, diz.