por Márcia Alves


 


Os acidentes de trânsito são a principal causa de morte no país, segundo Ministério da Saúde. Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que em 2005 morreram 35 mil pessoas no país, sendo 81,5% do sexo masculino e mais da metade jovens. Entre os adolescentes, essa é a segunda principal causa de morte – a primeira é o homicídio. De acordo com a avaliação, 3.976 pessoas entre 10 e 19 anos perderam a vida no trânsito nesse período.


 


Apesar de alarmante, o número de mortes é bem maior do que o divulgado, acredita a pedagoga Nereide Tolentino, coordenadora da pesquisa “O jovem e o trânsito”, realizada pelo Ibope, em abril deste ano. Para ela a apuração dos acidentes nas rodovias é falha, porque contabiliza somente as vítimas fatais no local e não aquelas que morrem nos hospitais ou a caminho deles ou um mês depois. A pesquisa do Ibope revelou alguns fatos desconcertantes: 88% dos entrevistados admitem que dirigem mais depressa; 30% reconhecem que esse comportamento é motivado pela bebida; 57% sabem que a causa dos acidentes é a imprudência; e 55% declararam que a fiscalização eletrônica é mais eficiente que o agente de trânsito. “A falta de crédito nas autoridades não é um comportamento exclusivo do jovem, mas um padrão moral do brasileiro”, define Nereide.


 


“Até quando vamos assistir de braços cruzados os pais enterrando os seus filhos?”, questiona Salomão Rabinovich, que há 17 anos preside a Associação das Vítimas de Trânsito (Avitran). Além de tornar o bafômetro obrigatório, ele sugere que os motoristas flagrados bêbados percam o direito de dirigir. Não adianta “bater de frente” contra o arraigado hábito de beber população, acredita a ortopedista Julia Greve, do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Quem bebe cerveja não acha que está consumindo álcool, daí porque proibir não funcionaria”, diz. Ela é adepta da tese de redução de danos, pela qual seria permitido o consumo, mas moderado e responsável.


 


Campanhas


Não por acaso “O Jovem e o Trânsito” foi o tema da Semana Nacional de Trânsito, realizada em todo o país, no mês de setembro, pelos órgãos ligados ao Conselho Nacional de Trânsito (Contran). Porém, nada é mais difícil do que falar ao jovem sobre segurança de trânsito. Eduardo Biavati, mestre em sociologia e especialista em segurança no trânsito, sabe disso. Por mais 10 anos, ele coordenou o Programa de Prevenção a Acidentes de Trânsito da Rede Sarah de Hospitais, de Brasília (DF), período no qual apresentou palestras para mais cerca de 300 mil jovens. Esse trabalho resultou no livro “Rota de Colisão”. O sociólogo acredita que o momento atual é de “desconstrução”, demarcado pelo fim da ascendência dos pais sobre os filhos. “Não há jovem que se paute pelas regras de educação dos pais e nem pelas regras do Código de Trânsito”.


 


Para alcançar esse público, Biavati sugere uma nova abordagem, que atinge a vaidade típica dos adolescentes. Ele procura mostrar aos jovens como, em fração de segundos, o corpo deles pode perder a força e a beleza da juventude. Mesmo admitindo que a violência do trânsito tende a aumentar, por conta, inclusive, da invasão maciça das motocicletas que está mudando a composição da frota e o padrão de acidentes, ele acredita que a educação e a fiscalização sejam a solução. “Ou todos nos protegemos, ou todos continuaremos a contar nossos 35 mil mortos no trânsito todos anos”.