por Cristiane Collich Sampaio


 



O ano, todos concordam que foi 1958, porém há dúvidas sobre o evento que assinalou o nascimento desse estilo musical tipicamente brasileiro, hoje mundialmente venerado: o lançamento do LP Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso, com músicas dos novatos Tom Jobim e Vinicius de Morais, em maio, ou do compacto Chega de Saudade, do violonista baiano João Gilberto, no segundo semestre. Mas isso pouco importa.


A bossa nova – um sambinha com influência do jazz norte-americano, manemolente, com sua característica batida de violão – surgia como uma opção mais suave, moderna e democrática às privilegiadas vozes do rádio, como as de Orlando Silva, Francisco Alves e outros nomes famosos na época. Também inaugurava uma nova temática, distante do sofrimento e do romantismo exagerado impressos nas letras de então, e mais próxima do espírito desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek – o “Presidente Bossa Nova”, como foi apelidado por Juca Chaves – e da juventude de então. As praias do Rio de Janeiro, suas musas, temas do cotidiano, um cantinho, um violão, inspiraram criações e interpretações como as de Marcos Valle, Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, Nara Leão – em seu apartamento se desenvolveram muitas das reuniões do grupo inicial de protagonistas desse movimento –, Leny Andrade, Agostinho dos Santos, entre outros, além dos já citados. Mais tarde, também a Bahia de Dorival Caymmi passaria a figurar nas letras.


 


Revival


 


O sucesso dessa nova vertente musical, assim como o nome com que é hoje conhecida, só veio, mansamente, em meados da década de 60, primeiro no Brasil e depois no mundo. Em 1962, a trupe comandada por João Gilberto, com Bola Sete, Carmem Costa, Luis Bonfá, Lyra, Sérgio Mendes, Jobim, Menescal e outros, arrancou aplausos entusiasmados dos cerca de três mil espectadores norte-americanos, que lotaram o show no Carnegie Hall de Nova Iorque. Depois, grandes nomes do blues e do jazz passaram a incorporar clássicos desse estilo a seu repertório, assim como tradicionais canções da discografia mundial, como as interpretadas por Frank Sinatra, ganharam versões em ritmo de bossa nova. Por anos o Brasil teve de importar produtos do Japão e dos EUA, nos quais os lançamentos e relançamentos são freqüentes e as vendas superam, em muito, as daqui.


Mas em 2008 esse cenário deve mudar. Além dos shows comemorativos – como os já apresentados no Rio e em Salvador e dos programados para São Paulo e outras capitais –, canções como Marina Morena, Corcovado, Samba de Uma Nota Só, Garota de Ipanema, O Pato, Desafinado, Teresa da Praia, Sabiá, entre tantas, deverão receber reimpressões e, talvez embaladas por outras vozes e em nova roupagem, cheguem em profusão às lojas de discos de todo o país. É esperar para ver (e ouvir).