por Márcia Alves
Não adianta querer ignorar, os postos de combustíveis estão mídia e na boca do povo. Não se fala em outra coisa. O posto tal foi flagrado adulterando. O fulano engenheiro armava um esquema para os postos. Posto teve a bomba arrancada. E por aí vai... Mas, o que está acontecendo com a revenda de combustíveis? Em busca dessa resposta, a Posto de Observação ouviu quatro especialista, que foram unânimes: está faltando ética na revenda de combustíveis.
O desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), José Renato Nalini, especialista em ética, enxerga a questão de um ponto de vista macro, afirmando que estamos vivendo a era das incertezas. Ele acredita que, atualmente, alguns paradigmas estão sendo quebrados, pois há uma queda generalizada de confiança da sociedade, no governo, no processo político e nas empresas. Escândalos, corrupção e a aparente falta de responsabilidade nos levam a questionar a autoridade concedida ao Sistema, observa.
A Lei de Gerson ainda não foi revogada, considera a professora do Centro de Estudos de Ética nas Organizações da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Maria Cecília Coutinho Arruda. A falta de educação e a impunidade, a seu ver, parecem estar reforçando comportamentos antiéticos. Para o desembargador, a falha está em atuar como se o lucro fosse o único interesse e não existisse lugar para a ética senão no discurso. Nalini sugere que se deve racionalizar em torno da questão: quão longe é longe demais?. Onde está fronteira entre esperteza e vigarice? Entre acuidade e malandragem? Entre maximização do lucro e a conduta ilegal? Ele aconselha: nem tente descobrir quão longe é longe demais.
Imagem arranhada
Obviamente, os revendedores de combustíveis que adulteram, sonegam e enganam seus clientes não têm noção de que estão prejudicando a imagem institucional do setor. É uma visão egoísta dos que não se importam com as conseqüências em longo prazo, atesta Nalini. Para ele, predomina a crença de que a atividade é segura e que jamais será descoberta. A questão clássica do crime e castigo, a depender da efetiva descoberta, pondera. Recuperar a imagem não é um processo de baixo custo, reconhece a professora da FGV.