por Márcia Alves


 



Os postos de combustíveis da Grande João Pessoa (PB) não estão suportando a concorrência com as grandes redes de supermercados. Desde que esses grupos passaram a atuar no comércio de combustíveis do estado, há cerca de seis anos, quase 30% dos postos da capital e região fecharam as portas e mais de 80% trocaram de proprietários.


Estima-se que cada um dos postos de supermercados instalados na região venda, atualmente, mais de um milhão de litros por mês, um volume infinitamente maior que a galonagem média da revenda local, que é de 80 mil litros. O resultado dessa concorrência predatória é que os supermercados já respondem por mais de 50% do volume de combustíveis comercializado na capital e cidades próximas.


“Os supermercados têm um enorme poder de barganha, considerando os volumes de vendas, a concentração de públicos diferenciados e mais a gama de serviços oferecidos”, afirma o vice-presidente do sindicato da revenda do estado (Sindipetro-PB), Jurandir Tavares de Miranda. Segundo ele, apesar de serem obrigados a possuir CNPJ exclusivo para os postos, os supermercados utilizam seu grande poder econômico para atrair a clientela.


Com a mesma estratégia adotada nos demais estados onde operam, as redes varejistas incrementam o negócio da revenda de combustíveis com a oferta de serviços aos veículos, como alinhamento, balanceamento de rodas, venda de pneus e acessórios.  Mas, o preço do litro de combustível, bem abaixo do valor de mercado, ainda é o maior chamariz. “Os supermercados têm condições de oferecer um preço melhor e um prazo mais elástico para pagamento com cartão de crédito do próprio estabelecimento”, explica Miranda.


“Intervenção branca”


O avanço dos supermercados sobre a revenda de combustíveis paraibana não enfrenta, por enquanto, qualquer resistência dos donos de postos do estado. O dirigente do Sindipetro-PB justifica a apatia geral como resultado da atuação rigorosa dos órgãos de fiscalização contra a “cartelização” do setor.  “A nossa categoria está dispersa, porque teme represália das autoridades do governo, que praticam uma fiscalização abusiva”, afirma.


Miranda relata que a “avalanche” de intervenções fiscalizatórias no mercado, nos últimos tempos, tem inibido o empresário da revenda de praticar margens de lucro mais adequadas, capazes de remunerar adequadamente a atividade. “Está havendo uma ‘intervenção branca’ no setor, que traz graves distorções e que provocará, no futuro, uma grande concentração de mercado”, diz.


Se o quadro não mudar e o comércio de combustíveis permanecer concentrado nas mãos de grupos econômicos, Miranda teme pelo futuro da revenda. Para ele, está claro que a prática de preços predatórios é uma estratégia dos supermercados para absorver todo o mercado da revenda e lucrar com a concentração. “Se os revendedores não acordarem, então chegará o dia em que serão meros espectadores ou apenas consumidores”.


Uma saída


O Sindipetro-PB tem orientado os revendedores a investirem na oferta de mais serviços para enfrentarem a concorrência com as redes varejistas. “Os donos de postos precisam parar de olhar para a placa de preços de seus vizinhos e administrarem melhor o seu negócio”, aponta Miranda. A saída, segundo ele, é transformar o posto de gasolina num posto de serviços, investindo na loja de conveniência, troca de óleo, recebimentos de contas e outros benefícios que agreguem valor ao negócio. O dirigente também dá um conselho aos revendedores:


- Precisamos entender que a prática de preços diferenciados é uma necessidade. Não podemos cair no conto dos supermercados que baixam os preços da Coca-Cola, mas vendem mais caros os demais produtos. Eles não têm prejuízo, pois esta é uma tática de mercado. Gasolina não é Coca-Cola.