por Denise de Almeida


 


Antes de se consagrar como o grande nome do gênero samba e pagode, ele foi feirante, camelô, office-boy, contínuo e anotador de jogo do bicho. Fez de tudo um pouco. Quarto filho de uma família de cinco crianças, Zeca Pagodinho nasceu Jessé Gomes da Silva Filho, em fevereiro de 1959, no subúrbio do Rio de Janeiro, e, tendo convivido com o samba desde menino, logo ficou conhecido por seus versos e melodias. Também não tinha vocação para os estudos. Largou cedo a escola.


Nos anos 70, quando o partido-alto começava a se tornar uma febre, Zeca já freqüentava as rodas de samba nos subúrbios do Rio. Em um desses encontros, conheceu Beth Carvalho, que se encantou com o talento do compositor e, além de gravar um samba seu (“Camarão que Dorme a Onda Leva”, em parceria com Arlindo Cruz), tornou-se a madrinha de samba do jovem partideiro.


De lá pra cá, Zeca já gravou mais de 18 discos. Tornou-se tão imensamente popular que, hoje em dia, seus shows chegam a ser contratados para as mais badaladas casas de espetáculos do país, mas dificilmente um admirador que mora nas periferias do Brasil tem condições de adquirir um ingresso.


Ainda assim, o artista mantém suas raízes, e sua humildade se revela em seus projetos sociais. Em Xerém, distrito da cidade de Duque de Caxias, onde possui um sítio, Zeca mantém uma escola de música para crianças carentes da região.


As letras de suas canções retratam o cotidiano da vida brasileira de forma bem humorada, e, bem ao estilo “deixa a vida me levar”, Zeca segue colecionando discos de ouro.


Carioca suburbano típico, ele é, hoje, unanimidade nacional e soube se adaptar aos redutos mais elitistas da cidade sem perder a autenticidade. Atualmente reside na Barra da Tijuca com a mulher, Mônica Silva, e seus quatro filhos: Eduardo, Louis, Elisa e Maria Eduarda.


 


PO – Segundo o Prêmio TIM, você é o melhor cantor de samba do país. Aos 48 anos de idade, ainda há algum sonho que falta realizar?


Zeca – Eu rezo sempre para ter saúde e paz, para mim e para a minha família. O resto, a gente corre atrás.  E a vida da gente é continuar sonhando... sempre.


 


PO – Você declarou que “porre não pega bem”. Apesar de ser garoto-propaganda de uma grande cervejaria, você se considera um boêmio controlado?


Zeca – Não sei se sou controlado ou não. O importante é beber na hora certa e segurar a onda, sendo responsável.


 


PO – O fato da mídia o caracterizar como “o cantor das pingas” não o incomoda? E a influência e o poder que a propaganda de bebida alcoólica pode exercer entre os jovens? Não te preocupa?


Zeca – Não acredito nisso. Não é porque eu apareço na TV bebendo que as pessoas vão passar a beber. A propaganda serve pra fixar uma marca, o hábito de beber vem dos gostos das pessoas. Sempre assisti comercial de cachaça e nem por isso bebo pinga.


 


PO – Em conseqüência da sua irreverência, criou-se a “zeca-feira”. Como você vê seu nome associado a um novo dia para o happy hour?


Zeca – Acho engraçado. Foi uma idéia do Nizan (Guanaes) e ficou legal. 


 


PO – Você não fala muito sobre seus projetos sociais. Como vão os planos em Xerém onde mantém raízes e projetos? E a escola de música?


Zeca – A Escola de Música Mata Virgem já tem 300 alunos. As crianças estudam da teoria à prática e devem estar matriculadas em escolas. A idéia era fazer os meus filhos estudarem música, resolvi estender a algumas crianças de Xerém e, quando eu vi, a escola cresceu. Fico muito feliz em dar a oportunidade para essas crianças estudarem música, porque eu não tive isso quando comecei... Quero que um dia elas possam viver de música como eu vivo...


 


PO – Você também tem planos para a criação de um selo para lançar novos nomes da música, o Zeca Pagodiscos...


Zeca – É... A idéia é lançar um selo para lançar gente nova da MPB.


 


PO – Após tantos anos de carreira, ainda dá o “frio na barriga” antes do show? Há algum ritual ou crença indispensável antes de iniciar as apresentações?


Zeca – Frio na barriga dá sempre. É a expectativa do público gostar do show. O ritual é meu São Jorge, que carrego para todos os shows e para quem sempre peço proteção.


 


PO –O que os empresários de combustíveis de São Paulo podem esperar desse seu show?


Zeca – O show é exatamente o mesmo que venho apresentando na turnê do Acústico MTV 2 - Gafieira e que está no DVD. Todos podem esperar uma grande festa, muita animação, pois ninguém fica parado. E, claro, não faltam os sucessos de sempre.