por Denise de Almeida




 


O pára-quedismo, ao contrário do que muitos pensam, não é um esporte criado há pouco tempo. Na verdade, ele vem de um eterno sonho do ser humano: voar. Mais que isso: voar livremente utilizando somente seu próprio corpo, assim como fazem os pássaros.


O sonho tem início registrado ainda na mitologia, que mostra Dédalo e seu filho Ícaro na busca de alçar vôo com asas de penas de pássaro ligadas por cera. Desde então, são inúmeros os registros de pessoas que tentaram a façanha, construindo equipamentos e engenhocas especiais.


Existem evidências de que o gênio Leonardo da Vinci, em 1495, fez projetos de um pára-quedas um pouco rudimentar, mas que funcionou em testes recentes, o que o tornou o precursor como projetista de pára-quedas.


Posteriormente, italianos, franceses, chineses tentariam a façanha de voar, mas somente em 1797 a história registraria o salto do primeiro pára-quedista do mundo: André-Jacques Garnerin saltou de um balão, em Paris, a uma altura aproximada de 2 mil pés.


A evolução natural do sonho resultou no primeiro Festival Desportivo de Pára-quedismo, organizado pelos russos, em 1930. E, em 1941, o pára-quedas se transformaria em equipamento de guerra, quando o exército alemão lançou pára-quedistas militares para conquistar a Ilha de Creta.


Hoje, o pára-quedismo se desenvolve numa velocidade vertiginosa, tanto quanto aos equipamentos, quanto às técnicas de salto e tipos de competição.


 


Esporte Radical


 


Classificado como esporte de risco, o pára-quedismo é hoje também um dos mais seguros, garante Ricardo Pettena, chefe do Comitê de Instrução e Segurança da Confederação Brasileira de Pára-quedismo. “Com novas tecnologias e equipamentos de última geração, o pára-quedismo moderno se desenvolveu de maneira impressionante, oferecendo todos os recursos possíveis para que o atleta salte cada vez mais e melhor”, explica.


Para ele, a sensação que se vivencia ao saltar de pára-quedas é mesmo a de “estar voando, totalmente livre, mas com controle”. E para quem nunca ‘voou’, o instrutor recomenda que, antes de tentar um curso, o aluno deve realizar um salto duplo, “onde o passageiro tem a oportunidade de viver a sensação da queda livre, sem ter que saltar sozinho logo na primeira vez”, explica.


Nascido nos anos 80 com o intuito de prover o pára-quedismo de uma nova técnica de instrução mais segura e eficiente (pois se imaginava ser possível realizar um treinamento intensivo com o aluno durante toda a queda livre e durante a navegação do pára-quedas), o salto duplo, além de inovar as técnicas de instrução, também tem trazido uma grande popularidade ao esporte, já que proporciona todas as emoções de um salto de pára-quedas para as pessoas sem qualquer conhecimento prévio sobre as técnicas utilizadas no pára-quedismo.


 


No ar, a 200 km/h


 


Segundo Ricardo, o salto duplo é a forma mais fácil e conveniente para quem quer experimentar a sensação de voar em queda livre e é a porta de entrada para o esporte. “Tudo o que o passageiro tem a fazer é se divertir e auxiliar o instrutor durante todo o salto mantendo o corpo na posição correta, postura treinada previamente em solo”, revela.


Desde a decolagem até o momento da saída do avião, a 12 mil pés de altura (cerca de 3,7 mil metros), são aproximadamente 20 minutos. Em seguida vem o salto, onde o passageiro, conectado ao instrutor em um equipamento especialmente projetado para duas pessoas, experimenta a queda livre. São 50 segundos caindo a uma velocidade média de 200 Km/h.


“Em seguida, o pára-quedas se abre e o vôo se torna mais relaxante numa navegação de aproximadamente 6 minutos”, diz Ricardo. “Mas também pode se tornar extremamente radical. Curvas acentuadas, ‘carrosséis’ e até mesmo a possibilidade de o passageiro manobrar o pára-quedas sob a orientação do instrutor são possíveis, dependendo da escola”, afirma.


Para quem gostar da brincadeira e quiser se tornar um profissional da área, há inúmeras escolas e instrutores que oferecem cursos mais longos e intensos. Mas, se, ainda assim, a adrenalina pedir mais profissionalismo, o próximo passo é participar de campeonatos.


 


Campeonatos


 


De acordo com a Confederação Brasileira de Pára-quedismo, os campeonatos do esporte no Brasil possuem regras que seguem os padrões das confederações internacionais, as quais definem critérios para saltos e julgamentos para todos os estilos. As avaliações são feitas através das imagens dos cameramen, que filmam os saltos para que os juízes possam pontuar sua execução.


Cada categoria tem um número de saltos a ser realizado, que recebem notas de acordo com o grau de dificuldade, execução das manobras e apresentação geral do time. Tudo avaliado através do vídeo do salto, que é coletado assim que o cameraman pousa. No final de todos os saltos, o time que obtiver a melhor pontuação é o campeão.


As modalidades para os atletas do pára-quedismo são:


s          FQL (Formação em Queda Livre) – Foi o primeiro estilo de competição. São formadas seqüências de figuras geométricas em queda livre. Os times podem ter de dois a 16 atletas, mais um cameraman.


s          Free fly – Estilo onde são utilizadas todas as posições do corpo em queda livre: de cabeça para baixo, em pé, sentado, deitado. É o estilo que os atletas atingem as maiores velocidades. Os times são formados por dois atletas, mais um cameraman.


s          Skysurf – O pára-quedista salta com uma prancha fixada nos pés e realiza manobras em todas as posições de vôo. Nesse caso, salta apenas o atleta mais um cameraman.


s          Freestyle – Estilo com movimentos artísticos e de precisão, praticado por um atleta acompanhado pelo cameraman.


s          Swoop (pouso de alta performance) – Categoria em que o atleta é avaliado por sua performance no pouso, utilizando pára-quedas cada vez menores e mais velozes.


s          Wingsuite – Tipo de salto onde o atleta utiliza um macacão com ‘asas’ para aumentar o deslocamento horizontal e distância percorrida durante a queda.