por Denise de Almeida


 


Em 1972, a Ford brasileira, que buscava um carro para enfrentar o Chevrolet Opala e ocupar a lacuna entre o popular Corcel e o top de linha Galaxie, apresentou no Salão do Automóvel, um dos mais recentes sucessos americanos: O Maverick, um cupê de linhas fluídas e imponentes, equipado com motor dianteiro e tração traseira, que causou impacto entre os apaixonados por automóveis e prometeu ser um espetáculo de vendas também no Brasil.


O modelo, claramente copiado do Mustang, tinha nascido três anos antes, nos EUA, com motores de 2,8 e 3,3 litros, de seis cilindros, para concorrer diretamente com o Volks, e, para os padrões do país, era considerado um automóvel pequeno-médio, econômico e familiar. O sucesso foi imediato e logo no primeiro ano foram vendidas 579 mil unidades, incentivando o lançamento de outras versões, com apelo esportivo ou de luxo e motorizações diferentes.


No Brasil, porém, sua trajetória seria muito diferente.


Maverick, que na tradução livre do inglês, significa inovador, contrário às tradições, foi lançado no Brasil como a “fórmula contra a rotina”, mas em meio à primeira crise mundial do petróleo, ocasião em que os preços dos combustíveis dispararam e a gasolina sumiu dos postos. E, apesar do acabamento primoroso, robustez na construção, conforto e estabilidade, que ajudavam na tocada mais esportiva, “o Maverick tinha o fatídico motor 6 cilindros, que consumia excessivamente e não trazia a performance esperada e anunciada pela Ford”, conta Rodrigo Lombardi, proprietário de um Maverick 1978 Super Luxo, 2.3 OHC, e fundador do Maverick Clube do Brasil.


Para ele, embora fosse um excelente carro, foi lançado com o motor errado, na época mundial errada. “Costumamos dizer que o 6 cilindros ‘bebe’ mais que o V8 e anda menos que o 4 cilindros. Essa fama nasceu na época e, aliada à crise, fez com que muitos evitassem o Maverick”, diz.


Rei dos ‘pegas’ de rua e imbatível nas pistas de competição, nem mesmo com a mudança no motor e o lançamento de edições limitadas, a Ford não conseguiu mudar a imagem negativa, de motor ‘fraco e bebedor’, deixada pelo 6 cilindros.


Rodrigo ressalta que, enquanto viveu, o Maverick era desejado e cobiçado por muitos, mas adquirido por poucos. Tanto que, quando saiu de linha no Brasil, em 1979, contabilizava apenas 108.106 unidades vendidas por aqui.


Ainda assim, fez história e deixou uma legião de fãs e colecionadores. “Como todos os carros de série, após o término de sua produção, ocorreu a desvalorização do modelo e, nos anos 80, centenas de Maverick foram vendidos como sucata, mesmo estando impecáveis”, explica Rodrigo. Ele conta que o fato de não ser ‘colecionável’ se resume a ainda ser um carro relativamente novo no mundo antigomobilista, e de fabricação nacional, o que cria um aspecto de carro fácil de achar a qualquer hora. “Mas isso não é verdade, já que foram feitos menos de 110 mil Maverick, em oposição ao mais de 1 milhão de Opala produzidos”, justifica.


Hoje, o Maverick Clube do Brasil calcula que menos de 10% destes carros estejam em circulação, sendo que São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná concentram a grande maioria dos remanescentes, entre, originais, personalizados, de competição etc.


Para reunir esses apaixonados pelo Maverick, o clube organiza encontros, acompanha e participa das competições da categoria. “Nossa proposta é juntar os apaixonados, seus Mavericks, suas histórias, e auxiliar em restaurações, peças, ou apenas nos reunir para, principalmente, colocar o Maverick na rua, que sempre foi o seu lugar”, finaliza Rodrigo.