O que por aqui se convencionou chamar de churrasco grego – fatias de carne, prensadas com diversos ingredientes, e servidos no pão francês em algumas cidades brasileiras – é apenas um arremedo popular do prato original e muito consumido no país de origem, onde é preparado com carne de carneiro, porco e frango.

A culinária grega é muito rica, aromática e saudável. Ela faz parte da dieta mediterrânea, partilhando características com as cozinhas tradicionais da Itália, Turquia, região dos Bálcãs e de países do Oriente Médio.

Sua essência está no uso de ingredientes predominantemente frescos, produzidos localmente, no uso do azeite de oliva em praticamente todas as receitas e no amálgama de culturas ancestrais que imprimiram seus traços na região, como a bizantina e a otomana.

O que é que essa culinária tem?

Na Grécia, o terreno acidentado, propício à criação de ovelhas e cabras ao ar livre, favoreceu essas carnes no cardápio, na forma de cozidos e assados – como o kleftikó, carneiro que, na Antiguidade, era assado lentamente num poço fechado. Também boa parte dos queijos locais é produzida com o leite desses animais, puro ou – como o feta, de sabor acentuado – resultado da mistura de ambos.

Já na faixa costeira e nas ilhas, predominam os pratos a base de peixes, crustáceos, moluscos e frutos do mar, em versões grelhadas e ensopadas.

Os vegetais têm forte presença na dieta grega, assim como grãos em geral, iogurte, coalhada, vinho e mel. A beringela, por sinal, figura em pelo menos dois pratos bem conhecidos dos brasileiros: o patê (melitzanosaláta), servido como antepasto (mezédes), e a mussacá (mousaká), uma torta que leva tomate, queijo e, em algumas versões, carne ou peixe, também conhecida como lasanha de beringela.

A combinação de condimentos aromáticos talvez seja um dos diferenciais da Grécia em comparação à gastronomia típica de outros países do Mediterrâneo: o prazer da refeição começa pelo olfato. Por sinal, o tomilho é considerado um dos temperos mais tradicionais dessa culinária, com referência nas páginas da Odisséia, de Homero.

Referência nacional e de além-mar

Mas para provar essas delícias não é preciso atravessar o Atlântico. O Acrópoles é um dos poucos restaurantes brasileiros a figurar no livro 1.000 Lugares para Conhecer Antes de Morrer, da norte-americana Patricia Schultz. Inaugurada nos idos de 1959 no bairro do Bom Retiro, em São Paulo (SP), por Trassyovoulos Petrakis, conhecido como ‘seu Trasso’, a casa talvez seja o mais tradicional restaurante grego da cidade.

O desavisado transeunte que passa por sua porta jamais irá desconfiar das delicias que esconde, a menos que seu aroma as denuncie. Ali, tudo é muito simples. Os clientes são convidados a ir até a entrada da cozinha e escolher entre as opções expostas em caçarolas sobre uma estufa. Entre as especialidades, mussacá, carneiro assado, lula recheada e polvo ensopado ao vinho.

Não deixe de provar os antepastos, para acompanhar o ouzo, aguardente de uva com essência de anis, semelhante ao arak, de origem árabe. Mas não quebre os pratos: ‘seu Trasso’ assegura que a prática não é bem vinda. Hoje com mais de 90 anos, o proprietário continua supervisionando o funcionamento do restaurante, cotidianamente.

Serviço

Restaurante Acrópoles

R. da Graça, 364, no Bom Retiro, bairro situado na região central de São Paulo.

Tel.:/11-3223-4386.