por Márcia Alves


 



Os comer­cian­tes do Sul do país estão adotando uma nova arma para evitar o recebimento de cheques sem fundos. Em São Leo­poldo (RS), alguns estabelecimentos passaram a utilizar softwares que capturam e arquivam em um banco de dados a imagem de clientes emissores de cheque. Eles alegam que a medida é preventiva e visa reduzir a inadimplência, mas, na prática inibe e assusta clientes que temem ver sua imagem exposta, diante da possibilidade de ter seu cheque devolvido por falta de fundos.


A iniciativa pode até funcionar, mas há dois empecilhos, um de ordem legal e outro técnico, que podem comprometer o sucesso da empreitada. O primeiro diz respeito à violação do direito de imagem das pessoas, que é protegido pela Constituição Federal, no artigo 5º do inciso X, assegurando, inclusive, direito à indenização por dano moral para aqueles que se sentirem prejudicados. Segundo o advogado do Sincopetro, Alexandre Simão, a imagem é um “direito personalíssimo”, e, portanto, “não pode ser divulgada sem uma concreta necessidade”. Ele cita o exemplo de prédios e estabelecimentos que, por medida de segurança, filmam ou fotografam os visitantes, mas que apenas expõem as imagens quando ocorre um assalto.


O outro impedimento, de ordem técnica, limita o acesso de mais estabelecimentos ao sistema. Segundo Luiz Wanderley Martins, diretor do Hyper Postos/BNT, empresa que comercializa o BNT Cash, software de cadastro de cheques que, entre outras funções, rea­liza a captura de imagens, o comerciante precisa dispor de um computador com ótima configuração. “O ideal é um bom processador, com no mínimo 512 MB RAM e um HD de pelo menos 200 GB”, orienta. Além disso, ele observa que, no caso dos postos de serviços, onde se requer agilidade no atendimento, seria difícil levar o cliente até a frente de uma câmera para fotografá-lo. Diante dessas dificuldades, resta saber se comerciantes de outros estados, incluindo os revendedores de combustíveis, estão dispostos a seguir o exemplo de São Leopoldo.