por Márcia Alves


 


Para cumprir uma exigência curricular do curso de graduação em engenharia química da Universidade de Uberaba (Uniube), em Minas Gerais, o engenheiro civil e químico industrial José Donizetti de Melo fez uma proposta inusitada e desafiadora aos seus colegas de classe José Waldir de Sousa Filho, Cecília de Carvalho André, José Reis de Novaes e Carlos Henrique Tomé. Ele sugeriu ao grupo criar um equipamento, uma espécie de mini-usina, para produzir biodiesel a partir de óleo vegetal usado, em pequena escala e a baixo custo.


A proposta não somente foi aceita como cumprida com louvor. Sem qualquer subsídio financeiro ou apoio, José Donizetti e sua equipe desenvolveram um equipamento que superou as expectativas ao ser capaz de produzir 500 litros de biodiesel por dia e, ainda, gerar sua própria energia para funcionar.


Ele conta que por falta de recursos, a máquina foi construída com sucata de aço inox. “Era o que cabia no nosso bolso”, diz, acrescentando que, posteriormente, chegou a receber ajuda financeira de algumas empresas de engenharia, mas nenhuma de instituições de pesquisa ou da área de combustíveis.


De acordo com José Donizetti, em todos os ensaios foi usado como matéria-prima o óleo vegetal tido como rejeito, o conhecido óleo de cozinha. Outro dado importante é que o grupo utilizou um processo químico na fabricação do biodiesel diferente do tradicional. O biodiesel em uso no país, atualmente, é obtido por meio da transesterificação.


O equipamento projetado pelo grupo da Uniube utiliza como rota química a pirólise, que é a decomposição térmica de materiais contendo carbono, na ausência de oxigênio. A pirólise produz um combustível mais limpo que o biodiesel convencional, obtido por transesterificação, porque não utiliza álcool como reagente e hidróxido de sódio ou de potássio como catalisador.


Aliás, além de gerar menos resíduos, a pirólise também não produz bactérias, porque não sofre hidrólise e não oxida espontaneamente. Já o biodiesel convencional, segundo José Donizetti, está mais sujeito a ação de possíveis bactérias, que se formam pela presença dos grupos oxigenados (ésteres), passíveis de danificar os equipamentos dos postos e tanques de veículos abastecidos.


Bons resultados


Em testes realizados, o engenheiro classifica os resultados do equipamento como extraordinários. “Conseguimos um rendimento acima de 70% de óleo bruto, além praticamente eliminar a formação de resíduos poluentes”, diz. Embora o equipamento tenha sido projetado para gerar a própria energia por meio de um sistema de aquecimento autônomo, por falta de recursos a equipe tem utilizado a energia proveniente da biomassa.


“No sistema autônomo, o equipamento consumirá uma parcela entre 5% e 10% do próprio biodiesel produzido para gerar sua própria energia para funcionar. Atualmente, os custos de desenvolvimento da máquina atingem cerca de R$ 60 mil, valor que se paga em cerca de 120 dias de uso da máquina, segundo José Donizetti. Ele também acredita que a produção em escala possa reduzir pela metade o custo do equipamento.


Segundo o engenheiro, qualquer empreendimento que tenha consumo de energia, inclusive elétrica, pode utilizar o equipamento que produz biodiesel. Mas, por enquanto, ainda falta adequá-lo às exigências da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Quanto a isso, José Donizetti adianta que “as expectativas são muito boas”.