por Márcia Alves

Até hoje, a oxidação do biodiesel tem sido contornada com a mistura de aditivos sintéticos importados, que aumentam a estabilidade do produto e evitam a sua rápida degradação. Durante a estocagem, principalmente, a deterioração do biodiesel produz borras que danificam equipamentos dos postos de combustíveis e entopem mangueiras e filtros de veículos.

O problema é que esses aditivos são caros e oneram no preço final do biodiesel. Daí porque muitos cientistas brasileiros têm se dedicado às pesquisas de matérias primas nacionais para encontrar uma alternativa aos aditivos importados. Recentemente, uma dessas pesquisas encontrou o que pode ser a alternativa mais viável economicamente para reduzir a oxidação do biodiesel. Trata-se do líquido da castanha de caju, um subproduto da fruta, abundante na Região Nordeste, que provou ser um eficiente antioxidante ao biodiesel.

A descoberta foi resultado de três anos de pesquisa do mestrando da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Francisco Cardoso Figueiredo, sob orientação do professor do Departamento de Química, José Ribeiro dos Santos Junior. No último ano, a pesquisa ganhou o título de melhor projeto de inovação em 2010, em evento promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Social (Senai).

Acima das expectativas

De acordo com o professor José Ribeiro, um dos motivos para a rápida oxidação do biodiesel está no seu principal componente, o óleo de soja, que representa 85% do produto. Tanto que em testes de rancidez, o biodiesel de soja apresenta estabilidade oxidativa de apenas 3 horas, metade do tempo recomendado para garantir a qualidade do produto, conforme as especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Outra agravante, segundo ele, é que o processo de oxidação pode acelerar a formação de ácidos que tenham afinidade com a água, aumentando a absorção de umidade do produto. “Essa combinação pode apresentar caráter corrosivo, terminando por danificar os equipamentos”, esclarece. O especialista destaca que os antioxidantes são capazes de retardar esse processo, aumentando a vida útil do biodiesel.

De acordo com os pesquisadores da UFPI, testado como antioxidante, o líquido de castanha de caju superou as expectativas. “Depois de uma modificação química na estrutura do líquido, o biodiesel aditivado resistiu de 6 à 14 horas sem oxidar”, disse o professor José Ribeiro. Ele acrescentou, ainda, que o líquido foi adicionado na proporção de mil ppm (partes por milhão) a 5 mil ppm.

Produção em escala

Levantamentos realizados pelos pesquisadores da UFPI indicam que o país dispõe de matéria prima suficiente para produzir o antioxidante a base de líquido de castanha de caju, o qual, atualmente, vem sendo utilizado apenas como combustível para caldeiras. “Mesmo na proporção de 5 mil ppm, acredito que a quantidade de produto que dispomos seria suficiente para aditivar todo o biodiesel de soja produzido no país, por um preço bem menor do que o importado”, disse. Além de iniciar o processo de registro de patente do produto, os pesquisadores conseguiram o apoio de uma empresa privada, que já desenvolveu um projeto piloto de produção em escala.