por Cristiane Collich Sampaio e Márcia Alves

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) divulgou recentemente o desenvolvimento de um aditivo natural capaz de melhorar o desempenho do biodiesel e reduzir seu custo, possibilitando a ampliação do percentual do produto na composição do diesel utilizado na frota brasileira, que hoje é de 5%. Produzido a partir da mistura de resíduos da indústria de papel e celulose e da produção de suco de laranja, respectivamente terebintina e limoneno, o aditivo é o resultado de pesquisas realizadas pelo professor Rodrigo Alves de Mattos para sua tese de doutorado no Instituto de Química (IQ) da universidade.

Solução para a formação de borra?

Segundo declarações do químico, os testes de bancada, realizados de acordo com normas internacionais (ASTM e EN), mostraram que o composto aumenta a fluidez do biodiesel, reduzindo em até 80% o ponto de entupimento do produto analisado. O composto também deve reduzir a probabilidade de formação de depósitos, os quais podem comprometer o funcionamento de equipamentos de armazenagem, bombeamento e filtragem do diesel e os motores de veículos.

Com o uso do novo aditivo, matérias-primas menos nobres e mais suscetíveis à variação de temperatura poderiam ser utilizadas na formulação do diesel com mais segurança, também quando na presença de temperaturas mais baixas. Além disso, por ser uma matéria-prima mais barata, poderia ter impacto positivo sobre os preços finais do diesel, mesmo com a elevação da presença do biodiesel na mistura.

“A importância do aditivo é que ele viabilizaria a introdução imediata do B10 e também abriria uma janela para o uso de material não nobre, como gordura suína, bovina ou mesmo restos de cozinha industrial, na transformação em biodiesel”, avalia. O produto poderia ser aplicado em qualquer uma das fases de comercialização, passando pela Petrobras e pelos postos.

Todavia ele admite que o composto ainda não foi submetido a testes de campo, nos quais outros quesitos, como as emissões, possam ser avaliados.

Mattos revela que a patente do produto está sendo requerida, mas que seu registro ainda não foi solicitado junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Qualidade do biodiesel ainda é desafio para a ciência

Bom seria para os revendedores de combustíveis se o biodiesel atingisse o tão sonhado padrão de qualidade. A bióloga Rachel Ann Hauser Davis, doutora em química analítica e pesquisadora das universidades PUC-RJ e UERJ, explica que o elevado grau de degradabilidade do biodiesel tem a ver com a sua origem, principalmente vegetal. Ela ressalta, porém, que o processo de degradação pode ser acelerado pela exposição do produto ao ar, umidade, metais, luz e calor ou, ainda, aos ambientes contaminados por micro-organismos. Por isso, alerta para o cuidado necessário nas etapas de transporte e armazenagem do produto final.

Entre as soluções para reduzir o problema, a bióloga aponta a adição de antioxidantes ao produto final. Mas, ressalta que o melhor meio ainda é a prevenção durante a produção e síntese do biodiesel. Ela chama a atenção para outro problema que também pode afetar a qualidade do biodiesel, que é a presença de metais pesados na composição, acima dos limites de especificação, que resultam na formação de depósitos e em danos ao sistema de injeção dos motores.

Segundo Rachel, os principais metais encontrados no biodiesel são sódio, potássio, magnésio, cálcio, fósforo, cobre, níquel, ferro, zinco, cádmio arsênio e silício. A presença desses elementos pode ser proveniente da própria matéria-prima ou da água utilizada na etapa de purificação, ou, ainda, do método de produção e condições de armazenamento. A solução, segundo a bióloga, é o monitoramento constante da presença desses metais, por meio de processos analíticos em laboratórios especializados.