por Márcia Alves


 


Se por um lado são conhecidas as vantagens do uso do etanol – álcool etílico – misturado à gasolina, caso da redução da poluição e do barateamento do produto final, por outro, não se sabe exatamente qual o impacto da contaminação desse produto em águas subterrâneas, nos casos em que há vazamento nos tanques dos postos de combustíveis. De acordo com Everton de Oliveira, sócio-fundador da Hidroplan, empresa especializada em hidrogeologia e que já atendeu mais de 400 casos na área de combustíveis, um dos possíveis efeitos seria o aumento da solubilidade dos hidrocarbonetos monoaromáticos (BTEXs), um dos componentes da gasolina, em água. Isso significa que, no caso de vazamento de gasolina no solo que atinja águas subterrâneas, o etanol não seria propriamente o maior risco, pois ele se degradaria, porém, potencializaria o efeito do benzeno, este sim um componente que oferece alto risco à saúde, inclusive o de câncer.


 


O assunto é tão sério que mereceu um amplo debate durante o “Seminário Internacional sobre Água Subterrânea e Etanol: da Produção do Consumo”, realizado entre os dias 8 e 10 de outubro de 2007, em São Paulo (SP), sob a promoção da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS). “Quando ocorre um derramamento dos tanques e a gasolina entra em contato com a água, o álcool formará uma pluma de contaminação, cuja alta concentração de etanol pode, então, facilitar a transferência dos BTEXs presentes na gasolina para a fase aquosa, aumentando a solubilidade dos hidrocarbonetos monoaromáticos, processo este denominado efeito co-solvência”, explicou o palestrante do seminário, Henry Xavier Corseuil, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).


 


Para outro palestrante, Jim Barker, pesquisador da Universidade de Waterloo, no Canadá, a adição de etanol à gasolina não é motivo de muita preocupação. Porém, alguns efeitos da mistura em águas subterrâneas já são conhecidos. “O etanol pode causar maiores concentrações de benzeno na água subterrânea inicialmente em contato com a gasolina e também pode tornar o benzeno mais persistente, de forma que a extensão da contaminação por benzeno será maior. Significa que o benzeno pode atingir poços que não teriam sido contaminados se o derramamento fosse de gasolina sem etanol”, diz.


 


No Brasil, não existe até o momento nenhuma legislação ou tratamento específico que cuide da contaminação com etanol em águas subterrâneas, segundo Everton de Oliveira, que também é presidente da ABAS. “Usamos etanol há 30 anos e as nossas plumas de contaminação têm sido tratadas da mesma forma que as dos países onde não há etanol”, afirma. Embora não haja muita preocupação quanto ao assunto, ele acredita que a tendência seja a criação de alguma legislação específica. Oliveira disse que na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), existe uma orientação para se iniciar a análise de água subterrânea com presença de etanol, cuja tarefa poderá ser imposta aos postos de combustíveis. Porém, ele adianta que “ainda precisa ser implementada”.