por Márcia Alves


 


Uma pesquisa desenvolvida por Elaine Vosniak Takeshita, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revelou que a adulteração de gasolina tipo C, a mais vendida no mercado, pode burlar os testes de qualidade dos combustíveis realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ela constatou que é possível fazer misturas de gasolina tipo C com até 30% de solvente AB9, 20% de solvente aguarrás ou 2% de óleo diesel, sem que isso seja detectado pelos testes da agência. “O problema pode estar na flexibilidade dos parâmetros adotados pela ANP”, afirmou.


 


A gasolina tipo C deve ser composta 80% de gasolina pura (ou do tipo A) mais 25% de álcool anidro, com tolerância de 1% para mais ou para menos. Qualquer alteração nesses percentuais ou a presença de substâncias diferentes na fórmula, como os solventes ou o óleo diesel, caracteriza adulteração do combustível. Para a realização do estudo, a pesquisadora utilizou os mesmos métodos adotados pela ANP. Foram feitos cinco tipos de análise: densidade, curva de destilação, pressão de vapor, octanagem (capacidade do combustível de resistir à compressão no interior dos cilindros do motor sem entrar em auto-ignição) e teor de hidrocarbonetos - compostos químicos constituídos por átomos de carbono e hidrogênio. Para que um combustível seja aprovado, ele não pode apresentar irregularidade em nenhum desses testes.


 


De acordo com a pesquisadora, no teste realizado pela ANP para a verificação de densidade do combustível, por exemplo, não há especificação de qual o valor-padrão para a gasolina ser aprovada. Já no ensaio de pressão de vapor é exigido apenas que o combustível testado não ultrapasse um parâmetro máximo de 69 quilopascais (kPa). Nenhuma combinação estudada na pesquisa, mesmo as com alto percentual de adulterantes na gasolina, excedeu esse limite.


 


Mas como não há um valor mínimo especificado pela agência, todas, inclusive aquelas que se aproximam muito do máximo permitido (68 Kpa, por exemplo), seriam aprovadas nesse teste. "Nossa sugestão é que sejam feitos ensaios mais rígidos", afirma o orientador do trabalho, o professor Antônio Augusto Ulson de Souza, do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos (EQA). Apesar dos equívocos registrados em relação a alguns adulterantes, a pesquisa comprovou que os parâmetros da ANP são eficientes para detectar o excesso de álcool anidro (AEAC) na gasolina. O valor de AEAC acima dos níveis permitidos é facilmente flagrado nos testes. Elaine recomendou à ANP que revise alguns parâmetros e inclua outros, para que possam ser detectadas adulterações causadas pelo acréscimo de pequenos volumes de solvente.