por Márcia Alves


 


Um estudo da Petrobras estima que até 2020 o consumo de gasolina no Brasil passará a ser inferior ao de álcool combustível. Nesse período, a previsão é que a participação de veículos com motor bicombustíveis na frota nacional deverá chegar a 71,3%, contra pouco mais de 20% atualmente. Apesar de os veículos flex serem hoje os mais vendidos, representando cerca 80% do total de unidades comercializadas mensalmente, a frota nacional ainda é predominantemente movida à gasolina. A tendência, de acordo com o estudo, será também a utilização de diesel em veículos de passeio leves a partir de 2015, o que deverá ampliar o uso de combustíveis verdes.


 


Também se espera que o apelo dos biocombustíveis tenha reflexo positivo no mercado de trabalho. Prevê-se uma acelerada ampliação de oportunidades, sobretudo para os químicos, que encontrariam mais vagas no setor de recepção de matéria-prima, na preparação, processamento e entrega do produto final. Segundo o professor Francisco Alves, da Universidade Federal de São Carlos, até 2010 serão abertas 69 novas usinas de álcool, que poderão demandar, no mínimo, de 820 a 2.052 vagas na região Centro-Oeste, de onde virá a maior parte da produção.


 


A adição de 2% de biodiesel (B2) ao diesel, em 2008, trará, ainda, um impacto positivo ao mercado de diesel, que movimentou 39 milhões de m3 no ano passado, aumentando em 54% a participação do produto em relação aos demais combustíveis usados no país. Por conta disso, estima-se que serão necessários 840 milhões de litros de biodiesel para atender à medida de acréscimo de 2% ao diesel fóssil. Eis o desafio. Em virtude de tamanha demanda, espalhou-se no mercado um temor quanto à possibilidade de faltar biodiesel.


 


Segundo divulgado na imprensa, esse receio fez com que o combustível desaparecesse das bombas nos postos, em dezembro. Especula-se que os produtores estariam segurando o produto para entregar às distribuidoras apenas a partir de janeiro, e que a Petrobras, por sua vez, estaria segurando o produto para compor um estoque e evitar o desabastecimento inicial. Oficialmente, tanto a Petrobras quanto a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não reconhecem o desabastecimento. Entretanto, o diretor da ANP, Haroldo Lima, disse recentemente, em entrevista que, a partir de janeiro, os produtores que não entregarem o combustível vendido em leilão serão “severamente punidos e não poderão participar de mais nenhum outro leilão”.


 


A versão da Petrobrás é que a redução da oferta ocorreu porque as produtoras conseguiram vender o biodiesel por um preço melhor nos últimos leilões, e optaram por deixar para entregar o combustível já com o novo preço. Para Carlos Zveibil Neto, empresário do setor de obras públicas, a solução para o biodiesel está no aumento da base de preço dos leilões da Petrobras. Caso o contrário, diz, “ela não conseguirá o produto”. Ele critica o governo por proteger os produtores de biodiesel. “É necessário tirar o fabricante de biodiesel do guarda-chuva da Petrobras, permitindo negociações diretas entre os produtores e as distribuidoras”, avalia. 


 


Além disso, a inclusão do biodiesel em programas sociais sobretaxou o produto e privilegiou os produtores, que mesmo recebendo, gratuitamente, adubo e tecnologia para plantar, não sofrem qualquer punição se não entregarem a produção ou se venderem para outro. “Como tudo no Brasil, o biodiesel, que poderia ser um programa de sucesso, foi usado para resolver outras coisas”, diz o empresário.


 


Adulteração


A chegada do biodiesel ao mercado também causa apreensão em relação à prática criminosa da adulteração de combustíveis. Por enquanto, a questão não preocupa o sindicato nacional das distribuidoras (Sindicom). Porém, a entidade avalia que o controle deverá ser intensificado a partir de 2009, período em que haverá outros fornecedores do produto, além da Petrobras.


 


A boa notícia é que o Instituto de Química da Universidade de Campinas já desenvolveu uma tecnologia que servirá de base para a análise da qualidade do biodiesel, que ainda não é certificado. Todas as matérias primas usadas para fazer o biodiesel, como óleo de soja refinado e o sebo, foram testadas no laboratório da Unicamp, que identificou as impurezas. Uma dessas impurezas é a glicerina que, ao ser queimada na combustão, gera uma substância tóxica e cancerígena. Além disso, interfere na viscosidade do biodiesel e pode comprometer o desempenho do motor.


 


Pela tecnologia desenvolvida, na etapa final um solvente é misturado ao biodiesel. O biocombustível em estado puro segue para um equipamento, que funciona como um raio-X, possibilitando identificar as alterações. Depois de seis meses de pesquisas, o objetivo será agora obter um selo de qualidade para certificar o biocombustível feito no Brasil, que será adotado pelo Inmetro.