por Márcia Alves


 


Apenas uma gota de sangue é suficiente para que uma nova tecnologia aplicada a testes diagnósticos detecte, em poucos minutos, uma série de doenças infecciosas, que ainda atingem parcela significativa da população brasileira. O método, conhecido como imunocromatografia, ou teste de migração lateral, funciona semelhante aos testes de gravidez com fita, que são feitos a olho nu por qualquer pessoa. No caso da imunocromatografia, uma membrana de nitrocelulose no formato de fita é impregnada em cada trecho com antígenos específicos, reagindo com o sangue coletado para o exame e indicando ou não a existência de doenças.


 


O procedimento, que substitui com vantagens os imunodiagnósticos convencionais, ainda não é realidade, mas deverá chegar ao mercado a partir de 2010. Nessa data, o consórcio formado entre as universidades federais de Minas Gerais e de Goiás com a empresa paulista Biotecnologia Industrial (BTI) finalizará o desenvolvimento de reativos (ou kits) para testes diagnósticos rápidos de sete doenças, baseados na imunocromatografia. Além do baixo custo, pois não exige equipamento ou treinamento específico para realizar o teste ou interpretar o resultado, a tecnologia possibilita o diagnóstico de pacientes pelos próprios agentes de saúde, dispensando a coleta e o envio de material biológico para centros de saúde especializados ou para laboratórios de análises clínicas.


 


“O diagnóstico in vitro rápido é bastante útil na identificação de doenças entre doadores de sangue, em inquéritos populacionais e na prevenção de transmissão de infecções da gestante para o feto”, exemplifica o professor Alfredo Miranda de Góes, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG. Segundo ele, por determinação, o preço do teste ficará em torno de R$ 10,00. “Contudo, uma única fita poderá proporcionar diagnóstico para uma ou diversas doenças”, observa. Testes convencionais, conhecidos como Elisa, chegam a custar entre R$ 30,00 e R$ 200,00, de acordo com as doenças pesquisadas. A diferença entre o tempo médio necessário para o diagnóstico nos dois métodos também é expressiva. Enquanto a imunocromatografia propicia leitura em 10 minutos, o método convencional apresenta resultado em cerca de três horas, com a desvantagem adicional de que tem de ser realizado apenas em laboratórios especializados.


 


Atualmente, cerca de 80% do material utilizado na produção dos testes é importado. O consórcio pretende produzir integralmente no Brasil os antígenos e anticorpos usados na reação. Quando isso acontecer, acredita Góes, não mais serão necessários os processos de readaptação dos testes importados às condições de temperatura e umidade de um país tropical. No futuro, os antígenos associados a cada doença poderão ainda ser produzidos por técnicas de biologia molecular. “Isso permitirá que os antígenos sejam mais puros do que os utilizados em kits importados e dará ao teste maior precisão”, ressalta o professor.