por Denise de Almeida


 



A economia mundial está com um novo vício energético: os biocombustíveis. Feito a partir de plantas como o milho e a cana-de-açúcar, sua produção cresce rapidamente e o produto está se tornando um componente fundamental na oferta de energias que possam substituir o petróleo. Por conta disso, crescem também as preocupações quanto ao seu impacto sobre o ambiente e os preços dos alimentos.


Especialistas, estudiosos e ecologistas começam a questionar a capacidade dos biocombustíveis em reduzir as emissões de CO2 na atmosfera, comentam sua contribuição para o desmatamento, além de alertarem sobre a implantação de um modelo agrícola baseado na exploração do trabalho e com alta dependência de grandes multinacionais. Mais que tudo isso, alguns economistas também responsabilizam os biocombustíveis pelo aumento da inflação mundial, por conta da alta dos produtos agrícolas usados para produzi-los.


 


Ritmo acelerado


 


Depois de um surto inicial de entusiasmo em 2005 e 2006, alguns países começam agora a repensar seu apoio aos biocombustíveis. Mas cortá-los não será fácil. Mesmo porque, a produção mundial dessa fonte de energia cresce anualmente o equivalente a cerca de 300 mil barris por dia. Isso ajuda a atender à crescente demanda por petróleo, que no ano passado cresceu em cerca de 900 mil barris por dia. Sem os biocombustíveis, os preços do petróleo – hoje batendo recordes – seriam ainda mais altos.


Também não está claro se há terra ou água suficientes para que se continue a aumentar a produção de biocombustíveis no atual ritmo. Mas uma desaceleração na produção de biocombustíveis só deixaria os mercados mundiais de combustíveis mais apertados e ressaltaria a dependência do mundo, especialmente quando os produtores de petróleo têm dificuldade para elevar sua oferta.


Na Europa, a imprensa já sinaliza que o debate sobre os biocombustíveis vai provavelmente migrar da discussão sobre se são bons ou ruins para a questão mais difícil de como assegurar que sua produção continue crescendo, sem provocar estragos econômicos e ambientais.


Enquanto isso, no Brasil, um dos mais ferrenhos defensores do uso dos biocombustíveis, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, disse que o Brasil não aceita críticas ao programa de biocombustíveis brasileiro, pois o país abastece toda a necessidade de consumo interno e ainda exporta excedentes.


O discurso foi proferido durante a abertura oficial da 30ª Conferência da FAO para a América Latina e Caribe, realizada em Brasília, de 14 a 18 de abril, evento da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, que contou com a participação de delegações dos 33 países-membros da região, além de organismos intergovernamentais, ONG´s e observadores.


Conforme o ministro, a energia limpa, além de proteger o meio ambiente, é também mais uma opção de renda para o agricultor e a tecnologia nacional é bastante desenvolvida, especialmente no caso do etanol.


Com relação ao cultivo da cana-de-açúcar, Stephanes lembrou que a cultura representa menos de 1% da produção agrícola brasileira e a expansão do produto está ocorrendo em áreas de pastagens subaproveitadas.