por Cristiane Collich Sampaio


 


Jessica Watson é a mais jovem navegadora a dar a volta ao mundo. Ela saiu de Sidney, na Austrália, no dia 17 de outubro de 2009, e aportou no mesmo local no dia 15 de maio deste ano, pouco antes de completar 17 anos. No Ellas Pink Lady, seu veleiro cor-de-rosa de 10 metros, a jovem australiana percorreu, sozinha, cerca de 20 mil milhas náuticas, em 210 dias, durante os quais só viu terra por três vezes.


Nessa trajetória, Jessica sofreu seis acidentes, quatro dos quais durante uma violenta tempestade na região das Ilhas Malvinas (ou Falklands), na costa argentina, com ventos de 70 nós (130 km/h) e ondas de mais de 10 metros, em que o mastro chegou a submergir e ela caiu n’água.


Muitos se perguntam se seus pais são loucos por permitir que ela partisse nessa aventura e apoiá-la nesse projeto. É ela quem responde: “eu provei para eles que estava pronta antes de partir.”


 


Ponto de partida


 


Esse projeto nasceu de sua necessidade de superação. Quando Jessica tinha oito anos, a família fez um curso de navegação, mas seu interesse por barcos surgiu depois. “Eu fui uma criança muito medrosa. Quando eu disse para os meus pais, aos 11 anos, que queria fazer a viagem, acho que eles não acreditaram”, conta, já consciente que para atingir esse objetivo teria de superar seus medos, do mar, do escuro etc. Anos depois, ao ler o livro de seu conterrâneo Jesse Martin, que aos 18 anos conquistou o título de mais jovem navegador a circundar a Terra, sentiu-se estimulada a levar seu projeto adiante.


Ela revela que foram dois anos de muito trabalho e preparo. Enfrentou muitos obstáculos para poder acumular experiência, já que eram poucos os donos de barco que a deixavam velejar. Em paralelo, teve de obter patrocínio, conseguir o veleiro e convencer as autoridades de que era capaz para executar a proeza.


Na bagagem, ovos em pó e muita comida congelada, além de livros e cadernos, já que os preparativos e a própria viagem prejudicaram seu desempenho escolar. De volta a terra firme, a recuperação do tempo perdido nesse campo está entre suas prioridades.


 


“Eu conquistei isso”


 


Jessica Watson desejava superar o recorde do britânico Mike Perham, de 17 anos. Mas a organização internacional que registra esse tipo de feito resolveu extinguir a categoria de mais jovens dos recordes, além de exigir que o percurso atingisse 21,6 mil milhas náuticas, o que não ocorreu. Mas, ela declara que isso não muda nada: “sou a mais jovem velejadora a dar a volta ao mundo sozinha, sem paradas e sem assistência. Eu conquistei isso."


Entretanto, ela conseguiu o recorde oficial de ser a mais jovem navegadora a dobrar o tenebroso Cabo Horn, no extremo da América do Sul, um verdadeiro cemitério de navios, aonde os ventos chegam a velocidades de até 200 km/h.


Com a façanha, ela adquiriu independência financeira, já lançou um livro sobre a viagem – True Spirit, best seller na Austrália, ainda não editado em português – e gira o mundo apresentando palestras sobre suas aventuras, como em outubro último, quando participou de uma feira náutica, em São Paulo (SP).