por Márcia Alves

O Departamento de Engenharia Metalúrgica (Demet) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) resolveu estudar os efeitos corrosivos dos bicombustíveis de soja e macaúba em comparação ao do diesel comum, quando em contato com metais do tipo ASTM-A36, utilizados para fabricação de tanques de reservatório para combustíveis aéreos.

Os resultados dos dois trabalhos desenvolvidos, um relacionando soja e diesel, o outro a macaúba e o combustível fóssil, apontaram que os biocombustíveis puros (B100) são significativamente mais corrosivos que o diesel acrescido de 5% dessas substâncias (B5) e estes mais que o óleo diesel puro (B0). Os B100 tendem a degradar o material metálico com o tempo, devido a presença de triacilglicerídeos de ácidos graxos insaturados – principalmente linoléico e linolênico – que potencializam a oxidação. Além disso, eles apresentam caráter higroscópico – capacidade de absorver água – muito maior que os combustíveis fósseis.

Estima-se que os B100 são 30 vezes mais higroscópicos que o diesel comum. Esta característica serve como indicador de potencial corrosivo. Já sobre o diesel comum é sabido que ele é relativamente inerte, produzindo pouca oxidação. Quando misturado ao biocombustível ele ameniza o potencial de corrosão, pois a substância passa a ter 95% de combustível fóssil que é menos polar e, por isso, menos reativo. Comparando os bicombustíveis de soja e macaúba e seus efeitos, a pesquisadora Milene Luciano, mestranda em engenharia metalúrgica, relata que o segundo se mostrou consideravelmente mais corrosivo.

Apesar dos dados obtidos com o trabalho, ela alerta que é cedo para afirmar que o potencial corrosivo dos biocombustíveis implicará em problemas para os veículos automotivos. “Estamos na primeira etapa de uma pesquisa mais ampla. O metal que utilizamos para avaliar a capacidade corrosiva não é o mesmo dos usado em tanques de carros. Ele é característico de reservatórios de estocagem de combustíveis aéreos”, salienta.

Antioxidantes para o biodiesel

De acordo com a professora do Departamento de Química da UFMG, Camila Corgozinho, a estabilidade à oxidação é um importante parâmetro de qualidade do biodiesel e também de outros combustíveis. Segundo ela, no momento da estocagem, o biocombustível pode ficar exposto a altas temperaturas e em contato com o ar, o que potencializa as reações radicalares (radicais livres), aumentando sua oxidação a ponto de torná-lo impróprio ao uso. “Para evitar esse quadro são utilizados os antioxidantes – moléculas que sofrem a oxidação no lugar do componente a ser protegido. Estas substâncias podem ser sintéticas ou naturais”, explica.

Uma pesquisa do Laboratório de Ensaios de Combustíveis do Departamento de Química, conduzida por Camila Corgozinho, avaliou o potencial de três compostos como antioxidantes: o BHT (substância sintética) e o piche e o siringol, ambos naturais. Os resultados obtidos apontam para maior eficiência do piche e do BHT como antioxidantes do biodiesel. Este último apresentou leve superioridade quando comparado ao piche. Para proteger uma mesma quantidade de combustível do envelhecimento, a proporção utilizada é de 750 partes por milhão (ppm) de BHT para 1000 ppm de piche. Os efeitos do siringol, em contrapartida, não foram significativos.