por Márcia Alves

De acordo com pesquisas demográficas recentes, a nova classe C brasileira incorporou nos últimos anos mais de 20 milhões de cidadãos.  Mas há outros fatores que levam todo empresário do varejo a ficar de olho no potencial de consumo até então inédito no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as classes C, D e E são, em geral, mais jovens que as classes A e B.

Além disso, nos últimos dez anos, o Brasil vem promovendo aumento real do salário mínimo, o que faz com que a massa de renda cresça acima da inflação. E, para completar, segundo dados da Fecomercio, as classes C, D e E detêm 67% dos cartões de crédito em uso atualmente.

Mix de lojas

De acordo com Rubens Kochen, especialista em varejo, um dos fatores relevantes é notar que há um descompasso entre os planos de expansão de lojistas e dos empreendedores de shoppings. “Enquanto os primeiros estão antevendo os lucros com a inclusão da classe C no consumo, os desenvolvedores de empreendimentos estão focados nas classes A e B, ou seja, em espaços caros demais para comerciantes de médio porte”.

O especialista lembra que, nos primórdios, os shoppings eram uma combinação de lojas enfileiradas com um estacionamento frontal. Ele próprio pergunta: e qual a relação dos antigos shoppings com o futuro dos negócios? Segundo ele, a resposta não está ligada a um sonho ou apego ao passado. Os antigos shoppings lembram muito o conceito de strip mall, um modelo de negócio muito difundido nos Estados Unidos. Como o nome sugere, trata-se de uma faixa (strip) de lojas com um amplo estacionamento em frente. Esses empreendimentos estão em todos os bairros e reúnem um mix de lojas completo e alinhado à demanda cotidiana da comunidade.

O modelo de strip mall pode ser composto por loja de conveniência, salão de beleza, lojas de ferramentas ou de calçados, doçaria, papelaria, livraria, lanchonete, floricultura, pet shop, ótica, cafeteria etc. “Nos Estados Unidos, 40% dos negócios de bairro têm esse perfil e contam com a fidelidade diária do público-alvo, o que mostra o potencial do modelo”, reforça.

O modelo dos postos

Na verdade, o modelo de negócios conhecido como strip mall já é utilizado no Brasil em muitos postos de combustíveis que têm, na sua área útil, negócios de diversos segmentos para atender a demanda da clientela. “Estamos falando de um centro comercial que pode dar suporte às mulheres que acumulam papéis de mãe e profissional. E que também pode atender homens sem paciência para ficar rodando em shoppings ou adolescentes e jovens a caminho das escolas, além dos aposentados em busca de um bom café”, explica Kochen.

Ele afirma que, embora já consolidado nos Estados Unidos, o strip mall – “que pode ser chamado de pequeno centro comercial” – continua a ser visto como o futuro do segmento varejista, também impulsionado pela moderna busca de qualidade de vida. No Brasil, o segmento que melhor assimilou o conceito de strip mall foi o de postos de combustíveis, que se tornaram verdadeiros centros comerciais. O conceito store-in-store, já consolidado no segmento, tem proporcionado benefícios concretos aos postos.

Para Kochen, do ponto de vista do empreendedor e do lojista, há vantagens significativas em investir no negócio. Uma delas é que, enquanto determinado número de bairros comporta apenas um shopping center, há inúmeros bairros no Brasil que podem absorver dois ou mais centros comerciais em postos de combustíveis.