por Cristiane Collich Sampaio
ENTREVISTA
Posto de Observação A que credita o aumento da "cultura da reclamação" e a mudança do perfil do consumidor? Quais as consequências na melhoria da qualidade de produtos e serviços?
Renan Feracciolli Desde o advento do CDC vem se trabalhando na efetiva educação dos consumidores, orientando-os sobre seus direitos, por meio de cartilhas, seminários. Com a popularização do uso da Internet, a disseminação das informações se intensificou. Por exemplo, hoje, além do portal, o Procon-SP dispõe de outros canais, como o blog Educa Procon e páginas do Twitter e no Facebook. Com isso, houve considerável aumento das reclamações sobre empresas, produtos e serviços junto ao órgão.
Isso teve reflexos diretos na qualidade de produtos e serviços disponíveis, pois se uma empresa não respeitar os direitos dos consumidores e atender a suas demandas, adequando seus produtos, não conseguirá sobreviver no mercado.
PO Na cadeia de comercialização de combustíveis, em caso de vícios de quantidade e qualidade, que fatia da responsabilidade civil cabe a cada um dos agentes?
Ferraciolli Nesses casos, o CDC trabalha com a responsabilidade solidária. Nos vícios de qualidade e quantidade, o revendedor de combustíveis é o primeiro a ser responsabilizado. Porém, também a distribuidora que ostenta sua marca no posto, conferindo credibilidade aos produtos ali comercializados, pode ser responsabilizada em situações como essas.
Nos vícios de qualidade e quantidade, (...) também a distribuidora pode ser responsabilizada.
PO No caso de um posto de combustíveis, como o revendedor pode atingir o nível de satisfação esperado pelo consumidor?
Ferraciolli Além do respeito às leis quanto à qualidade e o volume de combustíveis comercializados, o empresário precisa ter condutas adequadas, entre as quais, a prestação das devidas informações ao consumidor, abster-se de cometer práticas abusivas, como preços diferenciados para pagamento com cartões de crédito, discriminação de produtos (como cigarros, por exemplo) e definição de quantidades ou valores mínimos para pagamento por meio de cartões, de débito ou crédito, já que, pela lei são considerados como meios de pagamentos à vista. Com respeito à qualidade, ao lado das leis de defesa do consumidor, o setor ainda conta com legislação específica, bem delineada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Além disso, ao lidar com o público, deve trabalhar com cordialidade e ter à mão exemplar do CDC disponível para o consumidor poder consultar.
PO Há punições para o consumidor que faz uma denúncia falsa sobre uma empresa ou produto?
Ferraciolli Se um consumidor fizer alguma afirmação falsa, lesiva a uma empresa, terá de responder perante a lei, sofrendo até mesmo processo por calúnia, se a declaração for pública.
No Procon-SP, porém, até o momento, não há registro desse tipo de prática, possivelmente porque o cidadão sabe da seriedade do nosso trabalho. Todas as denúncias são apuradas pelo órgão.
PO Em março, foi entregue ao Senado o relatório da comissão de juristas responsável pela atualização do CDC. Quais as principais propostas apresentadas nesse relatório?
Ferraciolli Basicamente são três as alterações propostas. Elas dizem respeito ao comércio eletrônico, que surgiu depois que o CDC entrou em vigor (1990), o endividamento excessivo do consumidor e, ainda, à tutela coletiva, que prevê a possibilidade de defesa dos consumidores no Judiciário por meio de ações coletivas. Essa a revisão visa a modernização do código à luz de uma nova realidade, dotando-o de meios mais eficazes e céleres para resolver as questões.