por Márcia Alves

A crise de abastecimento, que afetou alguns estados do Norte e Sul do país em outubro, pode se repetir neste final de ano, período em que o consumo é maior, atingindo também o Sudeste e o Nordeste. Essa ameaça cresceu depois de a Petrobras anunciar, em novembro, a versão preliminar de um programa (Procop), que prevê a redução do nível de estoques. Para os especialistas Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, e Ildo Sauer, professor da USP, o sinal de alerta já está ligado.

Em entrevista à rádio Jovem Pan, de São Paulo, ambos manifestaram preocupação com a política do governo para o setor de combustíveis. Adriano Pires considera que o governo está “equivocado” ao estimular a importação de gasolina para acompanhar a demanda interna e controlar a inflação, sacrificando a lucratividade da Petrobras. Para Ildo Sauer, existem muitas dúvidas sobre a capacidade da Petrobras de atender o aumento do consumo no verão.

Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a Petrobras vem importando cada vez mais gasolina para acompanhar a demanda interna. Até setembro, foram 2,4 bilhões de litros, quase o triplo do registrado no mesmo período de 2011. Para agravar, a tendência é de aumento. Um estudo encomendado pelo jornal Folha de S. Paulo ao Grupo de Economia de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apurou que o Brasil terá de importar quase 20% da gasolina que consome nos próximos cinco anos, caso não amplie a produção nacional e a oferta de etanol continue restrita.

Para acalmar os ânimos, a presidente da Petrobras, Graça Foster, garantiu que não haverá desabastecimento. "A Petrobras não deixará faltar combustível. Mas precisamos lembrar que temos mais de 150 empresas distribuidoras de combustíveis. Respondemos por BR Distribuidora e por suprimento (pela Petrobrás)", afirmou em evento realizado recentemente em São Paulo (SP).

Já a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou nota reforçando que o abastecimento de combustíveis no Brasil, tanto de diesel quanto de gasolina, está ocorrendo de forma regular, e que os "casos pontuais” envolvendo a falta de gasolina, já foram sanados".

O governo federal já começou a traçar um plano de emergência. Isso porque, além do recorde de consumo e da falta de capacidade de produção, o setor de combustíveis apresenta graves problemas de infraestrutura de armazenagem e distribuição. Por isso, um grupo formado por técnicos do Ministério de Minas e Energia, ANP, Petrobras e representantes das distribuidoras e dos produtores de etanol, discute alternativas para a ampliação da capacidade de transporte e de armazenamento.